Participante: e quando você sente o apego por alguém e não
consegue se libertar dele?
Ter um apego é ter uma emoção.
O que chamamos de emoção são os sentimentos que vocês nutrem
pelas coisas do mundo. Não chamo de sentimentos porque sentir é uma atividade
sem raciocínio e aquilo que imaginam sentir existe a partir de uma razão. Vocês
amam, detestam, têm raiva de alguma coisa motivados por uma razão. Por isso o
que estão sentindo não pode ser chamado de sentimento. É por isso que chamo de
emoções.
Existem dois tipos de apegos: o mental, aquele que é formado
a partir de uma razão e o que é sentido livre da razão. O primeiro é exposto
através dos pensamentos que informam a existência do apego; o segundo existe
quando você acredita que aquele pensamento é real.
O primeiro é a prova do espírito; o segundo é a impureza do
ser. Falo assim porque ao sentir o segundo não agiu com neutralidade ao que foi
proposto pela mente. Por isso o que precisa ser eliminado por aquele que quer
alcançar a elevação espiritual é o segundo e não o primeiro.
Quem tem o apego que é denunciado pelo pensamento não é
você, mas sim a personalidade humana que está ligado nessa etapa da sua
existência eterna. Ter esse apego, na verdade, não é uma imperfeição, porque
ele faz parte do sistema humano de vida. Ou seja, ele é a sua provação. Se não
existisse, você não teria a sua provação e com isso não poderia alcançar a
elevação espiritual.
A encarnação não é uma vida, mas sim uma etapa da existência
eterna do espírito onde tem a oportunidade de realizar um trabalho, que se bem
realizado, poderá levar à elevação espiritual. Por isso, a personalidade humana
que caracteriza a existência de uma encarnação precisa funcionar a partir do
sistema humano de vida. Se não funcionasse assim, você não teria provas e essa
etapa de existência não teria sentido de existir.
Quem se ocupa em mudar o que a mente diz sentir, não entende
que o que é dito é prova e não realidade. Não é porque sua mente diz que está
apegado a alguma coisa que realmente está. Só estará quando se apegar ao
pensamento que afirma existir um apego. Quem compreende isso age no sentido de
se libertar do apego ao apego ao invés de agir querendo acabar com ele.
A luta buscando alcançar racionalmente o fim do apego
demonstra o estar apegado a outra coisa: a informação de que é errado ter
apego. Portanto, é fundamentada numa imperfeição também. Além disso, é infrutífera,
pois se o pensamento é sua prova e se essa precisa existir para que a sua
encarnação tenha sentido, espiritualmente falando, o pensamento não pode ser
mudado.
Quando a sua mente disser que você está apegado a qualquer
coisa, não se apegue a isso. Responda a ela: ‘quem está dizendo isso é você e não eu. Querendo estar, esteja; eu é
que não vou me apegar a isso’.
Sem apegar-se a ideia de estar apegado, não viverá os
efeitos do apego: o prazer de estar ao lado daquilo que é possuído e o pesar
por não estar. Além disso, estará livre de ter que mudar o que o pensamento
está afirmando. Com isso alcançou a harmonia com o seu mundo.
A perfeição, ou seja, conseguir viver harmonicamente com o
seu mundo, consiste em conviver com qualquer coisa que a mente crie sem pactuar
nem lutar contra o que é dito ou sentido pelo pensamento. Sempre que compactua
ou luta se desarmoniza com o seu mundo, que é aquilo criado pela razão.
O verdadeiro sábio é aquele que nada sabe. Quem não tem nada
que seja sabido não municia o egoísmo, pois não tem nada que precisa ser
defendido. Qualquer coisa que seja sabida, ou seja, qualquer informação que
seja tratada como verdadeira, servirá como munição ao egoísmo e com isso
extinguirá a harmonia. Sendo assim, se souber que não pode ter apego, o seu
egoísmo defenderá esse ponto de vista e o desarmonizará com o pensamento que
diz que há um apego.
Querer trocar o que está vivendo, mesmo que existam
ensinamentos dos mestres que digam que aquilo não deve ser vivido, é uma
imperfeição do espírito. Por isso, viva desapegado do apego informado pelo
pensamento ao invés de querer extingui-lo. Viva o título mãe que o pensamento
confere à uma determinada mulher sem querer lutar contra essa ideia.
Não gere expectativas a partir dos ensinamentos dos mestres.
Quem tem contato com qualquer ensinamento e o transforma num caminho que
precisa ser seguido racionalmente gera para si uma expectativa. Ela, por estar
ligada ao sistema humano de vida, se transforma em uma necessidade que precisa
ser atendida. Por isso, serve como causa para a desarmonia coma vida.
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