Meditar é uma coisa interessante e pouco compreendida.
Meditar não é sentar, ficar com os dedos fazendo bolinha e
dizer om. Muito menos adormecer, sentado ou deitado. Meditar é pensar o pensamento. Vocês mesmo
dizem quando estão pensando ou repensando sobre algum assunto que estão
meditando. Meditar é isso.
Quando Krishna diz que o homem sábio, o lúcido, deve meditar
sobre si como ser universal, ou espírito, está querendo dizer que deve repensar
seus próprios pensamentos a partir do seu lado espiritual e não a partir de
elementos materiais. Vou dar um exemplo: você tem, a sua mente cria preocupação
com a sua saúde. Ao invés de simplesmente aceitar essa preocupação, medite
sobre essa questão isso a partir do ser.
O que é falta de saúde? Doença. Quem está doente? O corpo ou
o espírito? Espírito não fica doente. Portanto, é o corpo que está doente e não
o espírito. Quem é o corpo? Alguma coisa que não é você. Portanto, porque se
preocupar com a saúde?
É isso que o homem sábio faz: medita, repensa os pensamentos
criados pelo ego a partir de bases diferentes com a intenção de não aceitar a
escravidão que o ego cria. Por isso, quando o ego cria um pensamento sobre
doença ele medita a partir do ser e chega à conclusão que não há porque se
preocupar com o seu estado físico.
Não estou dizendo que o homem lúcido não possa tomar
remédio, ir ao médico, não fazer os exames. O que estou dizendo é que não deve se
preocupar com a sua saúde. ‘Estou com
câncer? Estou. Vou ao médico, faço exame, tomo os remédios, faço o tratamento,
mas não me preocupo com isso. Por quê? Porque não sou a casca e quem está doente
é ela e não eu’. ‘Ah, mas aí você
pode morrer. Eu morrer? Eu já existia antes do nascimento. Por tanto, vou
continuar existindo depois da morte. Por isso, porque me preocupar com ela’?
Essa é a meditação que o senhor da mente faz.
A meditação do senhor da mente não é ficar sentado em um
canto gritando “om” ou fingindo que está pensando enquanto está dormindo. O
senhor da mente, como Buda ensina, tem atenção plena nos seus pensamentos para
identificar o que não vem do ser e eliminar isso da sua realidade. Só assim, alcança
a compreensão correta.
“Mesmo que viva aparentemente numa forma corporal é
conveniente que o sábio medite sobre a sua identidade como ser e também sobre a
unidade de tudo...”
No universo, tudo é uno, tudo está unido. A própria ciência
já vem provando isso. Não existem elementos autônomos, que não sejam
influenciados por outros. Tudo está interligado, unido.
Essa é uma realidade do universo e o sábio medita a partir
disso, ou seja, repensa os pensamentos que criam figuras fragmentadas sobre o
universo. Se ocupa em não aceitar os pensamentos que criam essa fragmentação. Essa
é a meditação para ele. “ah, aquilo está me dizendo que eu sou eu e aquela é
outra pessoa. Não, isso não existe. Eu e ela estamos interligados, somos
unidos.”
sobre o desapego...
Repensa os pensamentos buscando o desapego. Ou seja, repensa
os pensamentos se ocupando em libertar-se dos apegos contidos neles. Por estar
atento a esse detalhe o homem lúcido não se deixa enrolar pelas criações do ego
que geram apego.
Mas, o que é o apego? São as posses que o ego cria: a posse
material (é meu é do outro – ter uma propriedade particular); a posse
sentimental (eu amo ou eu desamo); e a posse moral (eu sei, o outro está errado).
Portanto, o ser lúcido medita todos os seus raciocínios para
não se escravizar a questões colocadas pelo ego que estejam ligadas a essas
características. Ou seja, quando o ego coloca um pensamento, o homem lúcido vai
procurar nele os elementos de possessão, para poder libertar-se da ação deles.
Onde houver um “é meu”
o homem lúcido diz “não tenho nada”.
Onde houver um “eu amo”, o homem
lúcido pensa: “estou uno com todos, por
isso não posso amar um e desamar outro”. Onde o ego colocar “eu sei”, o homem lúcido irá declarar: “só sei que nada sei”.
Essa é a meditação do homem lúcido nesses pontos, mas ainda
falta outras coisas presentes no texto.
sobre a similitude que há entre o céu e o atma,
onipresente substrato de tudo que parece móvel e imóvel.
O céu nesse caso é o reino do céu, o paraíso. É aquela ideia
de um bom lugar para depois da vida carnal, independente de nome ou forma. O
sábio medita entre a similitude desse bom lugar e a sua existência humana.
Cristo ensinou assim: “o
reino do céu não está acima nem abaixo, está
dentro e fora de cada um”. O Espírito da Verdade ensinou: “o reino do céu e o umbral não são lugares
circunspectos”. A partir desses ensinamentos o homem lúcido sabe que o
paraíso buscado já está presente aqui e agora. Não se trata de um lugar a ser
alcançado.
De posse dessa consciência, o homem lúcido medita a partir a
vida a partir dela. Ele está sempre pensando os pensamentos para não se prender
a declarações que afirmem que há um céu a ser alcançado nem um inferno a ser
vivido. Quando o pensamento gera esse tipo de declaração, o homem lúcido responde:
‘mas ego, já estou no céu, porque o céu
está dentro de mim.‘ Com isso anula a ação impositiva do ego que através de
percepções, emoções e pensamentos levam o ser a viver o aqui e agora como um
inferno preparatório para esperar um paraíso.
Portanto, aí está, agora na íntegra, a base de raciocínio de
um ser lúcido. Ele pensa a partir do ser e por isso só aceita pensamentos que
tratem de desapego. Só aceita pensamentos que fundamentam tudo numa única coisa.
Só aceita pensamentos que vivenciem a existência do reino do céu na Terra onde
a equanimidade está presente como emoção.
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